CRÍTICA - TRAFFIK (2018)
“Paula Patton enfrenta vilões que mostram o lado mais horrível do ser
humano nesse thriller de suspense chega aos cinemas brasileiros em setembro”
Segundo um recente relatório
da Organização das Nações Unidas (ONU), o tráfico de pessoas rende cerca de U$150 bilhões de dólares em
todo o planeta, tornando-se assim o terceiro maior faturamento mundial do crime
organizado, atrás apenas do tráfico de drogas e da falsificação. Estima-se que
atualmente, cerca de 21 milhões de pessoas encontram-se em situação de trabalho
forçado pelo mundo , isso é mais que a população de Portugal e Grécia juntos.
Cerca de 70% das vítimas são mulheres e meninas, que são
retiradas de seus países e obrigadas a trabalhar com prostituição, narcotráfico,
escravidão sexual, e até mesmo o tráfico de órgãos. Pelo menos um terço dessas
vítimas são menores de idade, que são lançadas rapidamente nesse esquema de
tortura e profundo desrespeito aos direitos humanos. É uma forma de crime
desprezível mas, que infelizmente assola a maioria das nações do mundo, tendo
sido constatado casos de tráfico humano em torno de mais de 130 países.
A ONU trata do assunto como uma de suas prioridades,
entretanto, o número de envolvidos e seu poder financeiro é tão volumoso que
deixa praticamente impossível a captura dos “cabeças” da organização. Por isso
é importante uma posição firme e íntegra do Estado, com políticas de educação,
distribuição de renda; além de segurança e pulso firme para monitorar e punir
aqueles envolvidos nesse comércio multibilionário que separa cada vez mais
mulheres de seus sonhos e de suas família.
E é justamente esse, o tema central de “Traffik”, filme que
já estreou nos cinemas americanos, e que agora em setembro chega ao Brasil para
nos fazer lembrar mais uma vez até onde o ser humano pode se rebaixar a fim de
seus interesses pessoais. É um filme de suspense, que usa bem seus personagens
para passar uma mensagem que fica de alerta para todos nós.
"Um casal aproveitando um fim de semana romântico numa bela casa nas montanhas é abordado por uma gangue de motoqueiros. Sozinhos, Brea e John devem se defender dos maníacos, que não se deterão em nada para proteger seus segredos"
"Um casal aproveitando um fim de semana romântico numa bela casa nas montanhas é abordado por uma gangue de motoqueiros. Sozinhos, Brea e John devem se defender dos maníacos, que não se deterão em nada para proteger seus segredos"
O filme começa mostrando um casal de namorados, e foca
principalmente na personagem de Brea, interpretada pela ótima Paula Patton (
que também assina a produção do longa ); Brea é uma jornalista que não enfrenta
os melhores dias em seu trabalho, mas conta com seu romântico e atencioso
namorado John ( vivido pelo sempre simpático Omar Epps ). John planeja pedir
Brea em casamento e para isso, a leva para uma casa deslumbrante, situada em
uma região montanhosa da Carolina do Norte. A casa foi cedida por Darren ( Laz
Alonso ), amigo do casal e que trabalha como agente de atletas. O filme também
conta com Roselyn Sanchez no elenco, interpretando Malia, namorada de Darren. E
assim fechamos o quarteto que irá sofrer bastante durante os 96 minutos de
trama.
O diretor Deon Taylor ( Meet the blacks ) acerta em apresentar
bem seus personagens na primeira meia-hora de filme, não é nada de espetacular
mas, é leve e competente. Paula Patton e Omar Epps estão muito bem em seus
personagens e mostram um bom entrosamento na pele do casal principal.
Suas ações durante a trama são plausíveis e em todos os
momentos eles nos passam veracidade no que fazem, e não cometem atitudes
idiotas que muitas vezes vemos em outros filmes do gênero.
Omar Epps ( House e Pânico 2 ) sempre atua de maneira segura
e carismática em seus personagens, seja em momentos mais tensos ou divertidos;
e a química com Paula ( Deja vú e Preciosa ) funciona muito bem e é impossível
não torcer para o bom rapaz que quer tanto pedir a mão de sua namorada em lugar
inesquecível.
Os outros personagens da trama não entregam a mesma
qualidade do casal principal. Temos a maravilhosa Roselyn Sanchez ( A Hora do rush ) interpretando uma mediana
Malia, e Laz Alonso ( Avatar ) trazendo um mais mediano ainda Darren, que além
de ser um personagem chato na tela, não acompanha a performance dos demais.
Estão lá mais para vermos mais sangue do que para vermos qualidade.
Os vilões do longa também poderiam ter recebido um trabalho
melhor pela produção; os motoqueiros selvagens estão bem caracterizados para um
passeio de fim de semana, mas não passam a tensão que deveriam passar, mesmo
quando estão em maior número.
Missi Pyle ( como Xerife Marnes ) e Luke Goss ( como Red ) talvez sejam os mais
experientes dos coadjuvantes, e por isso tem momentos um pouco mais
trabalhados, mas que não causam o impacto devido ao telespectador. Alguns podem
se surpreender com uma atitude ou outra, porém os mais experientes do gênero,
podem perceber logo cedo as intenções de cada um deles.
Os cenários usados no filme são lindos, porém uma fotografia
mais experiente teria captado muito melhor alguns ambientes que poderiam dar
ótimos retratos na tela. A floresta em volta casa é explorada somente uma vez,
o que foi mal planejado, pois ótimas perseguições e momentos de tensão poderiam
ter feito o filme nos grudar na ponta da cadeira querendo ajudar os
protagonistas.
O que conduz o filme muito bem, sem dúvidas, é seu tema
principal, a tráfico de mulheres. É m tema que não costuma ser batido em um
thriller de suspense, mas que bota o dedo na ferida para expor o quão grande é
esse tipo de crime organizado; escalando todos os níveis sociais e tendo a
ajuda, inclusive de autoridades que deveriam combater tal sistema.
Temos uma noção interessante do sofrimento das vítimas, mas
que poderia ter sido bem mais explorado nas câmeras, com por exemplo, alguma
cena mais forte de teor sexual ou de violência ( que entretanto, com certeza
iria atrapalhar a classificação indicativa do filme ).
A inteligência da personagem Brea em vários momentos nos
motiva torcer por ela, querendo que aqueles traficantes ali paguem por aqueles
crimes; e seu instinto de jornalista ajuda muito na agilidade de raciocínio,
para não perder nenhum detalhe daquele cerco ao seu redor.
Algo que causou um pouco de impaciência foi alguns takes, que
julguei longos demais, e que por vezes, estabelecem aquilo que já sabíamos. Não
que a duração do filme seja longa demais, de modo algum, está na medida certa.
Porém com esses takes, alguns segundos preciosos são perdidos, segundos que por
exemplo, poderiam servir para dar mais camadas aos antagonistas, e demonstrar o
quão cruel e grande é a organização criminosa que é abordada no enredo da
trama.
Traffik é uma produção que traz um enredo que mistura um
tema mais atual com a espinha dorsal de um suspense de perseguição ( casal
preso na casa isolada, um vizinho que acaba morrendo de graça, uma final girl
bad-ass...). Em nenhum momento do longa, ele é brilhante, porém tampouco é
ruim. É muito equilibrado e sempre segue em um bom ritmo. Destaque para as
atuações dos atores principais e por mostrar uma atividade que muitas vezes não
é lembrada ou dada a devida atenção.
Com mais ousadia do diretor em algumas cenas e um melhor
trabalho no núcleo de antagonistas, o filme poderia ter alcançado notas ainda
maiores nos sites de avaliação, mas mesmo assim ele merece ser visto e
classificado como o bom filme que é entregue.
“O tráfico humano deve ser combatido por todos nós. Disque 100!”
NOTA: 7,0/10,0
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