DIÁRIO DE RORSCHACH,
QUARTA-FEIRA: ZACK SNYDER: HERÓI OU VILÃO?
Fala geeks e geekonas! Recentemente tivemos a confirmação de
que a HBO produzirá uma série focada no universo de Watchmen, considerada a
melhor história em quadrinhos de todos os tempos.
Watchmen já teve além da história em quadrinhos, um filme.
Dirigido por Zack Snyder, o longa Watchmen foi controverso, e teve uma recepção mista tanto por parte do público
como da crítica. Porém, agora é a vez do showrrunner Damon Lindelof (Lost)
assumir o comando da nave-coruja e levar os vigilantes novamente as telas em
mais um ousado projeto da HBO.
E para comemorar o retorno de Watchmen a frente das câmeras,
nessa semana teremos a “Semana Watchmen” aqui no GR; que contará com a crítica
do filme de 2009, opinião sobre o projeto da série e muito mais!
Então fiquem ligados porque o próximo texto começa agora:
“Quem vigia Zack Snyder?”
Zack Snyder; um nome que gera cada vez mais controvérsias.
Alguns não se cansam de ver suas obras e colocá-las na mais alta prateleira da
qualidade. Por outro lado, muitos também passam a vida a criticar o diretor e o
culpam pelo excesso de iconografia em seus filmes e pelas decisões técnicas
duvidosas que o diretor tomou durante toda sua carreira. Mas enfim, herói ou
vilão, qual o termo que mais identifica Zack Snyder em todo o processo de
Watchmen? Ou seria ele um anti-herói, tentando fazer o certo com linhas tortas?
Seja qual for sua opinião, no texto de hoje daremos os argumentos necessários
para aumentar ainda mais a discussão entre os fervorosos fãs e haters do
diretor.
Nascido em 1966, Zachary Edward Snyder formou-se na Escola
de Arte de Pasadena, Califórnia; e logo após começou a dirigir videoclipes de
comerciais de grandes marcas automotivas. Entre um comercial e outro, no ano de
2004 o diretor ingressou no mundo cinematográfico com o filme “Madrugada dos
mortos”, remake da obra de George Romero. O filme fez muito sucesso e as boas
críticas o levaram a alçar vôos mais altos.
E foi em 2006, que seu nome entrou de vez na boca do povo
com o sucesso de “300”. O filme que adaptou a história em quadrinhos homônima
de Frank Miller, trouxe um estilo de filmagem que a partir dali, seria muito
recorrente nas obras de Snyder: o slow-motion acompanhado de brutais cenas de
ações. Essa combinação peculiar virou o carro-chefe do diretor, que ainda
dirigiria várias outras adaptações de quadrinhos ao longo de sua carreira, e
são justamente essas adaptações que provocam tanta comoção com o nome de Zack
Snyder, com muitos espectadores o colocando como um dos melhores diretores do
últimos anos, e muitos tendo vontade exilá-lo
na Sibéria por detestar seu conteúdo
cinematográfico.
Mas a questão é: Por que?
Em 2009, Zack Snyder dirigiu o longa Watchmen. Baseado na
maior história em quadrinhos da história, o filme trouxe um ótimo elenco com
nomes como Jeffrey Dean Morgan e Carla Gugino, além de um roteiro extremamente
fiel a sua graphic novel. Talvez esse, o principal erro de Snyder em sua trama.
O roteiro de Watchmen, escrito por David Hayter e Alex Tse,
foi a pedido do próprio Zack Snyder uma verdadeira storyboard da minissérie em
quadrinhos da década de 80. Praticamente, quadro por quadro foi colocado nas
telas, e isso embora seja um dos sonhos de muitos fãs de HQs, não produziu o
efeito desejado em um longa que precisava de mais intensidade do que fidelidade
completa a obra original.
A graphic novel de Watchmen fez história pela ousadia na
escrita de Alan Moore, que desconstruiu a imagem do super-herói e moldou um
novo tipo de leitura em quadrinhos, atraindo um novo público para as HQs, que
antes eram vistas como coisa de criança.
Watchmen abriu a porta dos quadrinhos para a violência
explícita, o retrato de como o mundo era sujo e corrupto; além de levantar
várias bandeiras que perduram até os dias de hoje, como o papel do governo em
confrontos políticos e qual a devida punição a infratores: a ressocialização ou
a repressão?
Isso mostra como Alan Moore viu a frente de seu tempo e
transmitiu em páginas cartunescas aquilo o que o mundo passava naquele momento,
e ainda é forçado a passar, graças a homens que nos fazem de marionetes em suas
mãos corruptas.
No filme de Snyder, conhecemos os mesmos personagens do
quadrinho, porém falta a mesma empatia que eles causam nas páginas coloridas.
Várias das escolhas de elenco de Snyder como Patrick Wilson e Matthew Goode são
tão inexpressivos quanto uma porta. Ainda existem ótimas escolhas como Jeffrey Dean Morgan como
o Comediante e Jackie Earle Haley como Rorschach, que entregam atuações, por
melhor falta de adjetivo melhor, BRILHANTES!
Porém, toda atmosfera por trás da HQ não é o suficiente se a
simbologia não está lá. Snyder colocou na tela uma adaptação o mais fiel
possível da obra original, mas existem casos que funcionam nos livros que não
funcionam nas telas, e vice-versa; e Watchmen é um desses casos.
Toda a técnica cinematográfica de Snyder está lá: a fotografia
de encher os olhos, a trilha sonora que te joga na trama, a montagem de cenas
que beira a perfeição, a caracterização, entre outros tópicos. Porém, o mais
essencial não está lá: a amarração do roteiro. Justamente essa, a espinha
dorsal de qualquer filme.
Eu sou um daqueles telespectadores que gostam de perguntas
deixadas em aberto durante a trama, perguntas que nos fazem raciocinar, criar
teorias e cultivar diferentes opiniões sobre um filme. Snyder fez isso muito
bem em Batman v Superman, mas em Watchmen as perguntas que ficaram sem
respostas não são construtivas para discussões futuras e sim, confusas para o
entendimento da história que é passada na tela.
Um filme com mais de 150 minutos de duração em seu corte
final ( e 215 minutos em sua versão
estendida ) não pode deixar tantas lacunas abertas, que vão desde a
morte aparentemente sem sentido do Comediante, passando pela displicência de
não contar os motivos pelo ódio aos intitulados “vigilantes”, e chegando ao não
contar nem o motivo da máscara de Rorschach se mexer constantemente ( embora
tenha ficado magnífico ). São muitas pontas soltas que não permitem ao
telespectador ter uma noção completa da obra ali exposta, pois até para rever
uma obra, precisamos ter percebido o trabalho colocado ali e o quanto aquilo
poderá marcar nossas vidas, e quando Snyder comete erros bobos em seu longa, ou
praticamente força o seu telespectador a ter que ler a obra original para
compreender a sua trama é um tremendo tiro no pé, e a ausência de toda a sensibilidade
cinematográfica.
O filme é longo demais e passa conteúdo de menos. Você não
irá discutir sobre algo que dormiu antes de terminar. Tudo o que Alan Moore
colocou nas páginas foi adaptado por Snyder de forma crua demais para um filme
com classificação para maiores de 18 anos. As cenas de violência e de estupro
parecem ter sido colocadas no filme por ele receber a classificação de 18 anos;
e não ele ter a classificação de 18 anos por conter as cenas. É uma enorme
diferença.
Os desenhos que Dave Gibbons inseriu na obra original de
Watchmen foram muito bem retratados no filme através da fotografia de ...;
porém as semelhanças param aí, o conteúdo passado é muito raso e não permite as
mesmas discussões e filosofias da graphic novel; sendo nesse caso, ironicamente,
o quadrinho ser mais adulto do que o cinema.
Snyder poderia ter aproveitado muito mais a liberdade que o
estúdio lhe deu, e ao invés de querer transformar os quadros do livro em frames
da câmera, dirigir algo mais amplo e que causasse uma atmosfera mais mórbida e
de solidão, como Tim Burton fez em Batman ao trazer uma Gotham tão solitária e sombria quanto o próprio
Batman.
Tínhamos que ouvir mais respostas , e menos perguntas. Na
tela, existem sequencias maravilhosas como as de Rorshach contando o motivo por
seu desejo de violência extrema, o Comediante sempre sorrindo ao fazer o que
faz e a cena da prisão, mostrando vários cortes perfeitos de Snyder na direção,
e um jeito muito original de colocar a câmera ( vide a cena do banheiro ).
Mas a intensidade sempre é levada a um degrau abaixo quando
pensamos que veremos algo épico. Zack Snyder, como dito, foi perfeito ( como
sempre é ) na parte técnica de Watchmen, todavia, o roteiro o fez tropeçar na
sua própria soberba ( como também é de costume ) em querer transformar até um
menino lendo gibi em uma história épica.
Snyder já nos proporcionou vários momentos maravilhosos e
emocionantes com suas produções. Ele foi o homem que nos arrepiar com nossos
heróis favoritos, e é dono de uma filmografia de respeito. Talvez só ele
consiga ter a sensibilidade de colocar um quadrinho na tela, com todos os seus
detalhes e cores; nos fazendo vibrar nas salas de cinema, e muitas vezes foi
injustiçado sim; entretanto também em várias ocasiões errou (como todo ser
humano). Em Watchmen ele esteve na linha tênue entre o ótimo e o péssimo;
transitou entre os dois lados, e não se firmou em nenhum; mas esse parece ser o
jeito Zack Snyder de dirigir: com personalidade e coragem ativados no modo
hard.Ninguém o vigia, é ele seu próprio watchmen.
No final das contas, Watchmen passa longe de ser um filme
ruim, principalmente se for visto com olhos mais experientes ,e até mesmo por
quem possa já ter lido ou seja familiarizado com o mundo dos quadrinhos; esses
telespectadores sim podem correr o risco de achar Zack Snyder um gênio da
sétima arte. Mas, para aqueles que procuram uma obra cinematográfica onde tudo
se encaixa, onde o roteiro chama mais a atenção que uma cena isolada e onde os
atores estejam em seus melhores dias; esses sim, irão achar Zack Snyder tão sem
graça quanto a atuação de Malin Akerman como Espectral.
Dizem que qualquer unanimidade é burra, e se tratando de
Zack Snyder, a unanimidade passa longe de sua filmografia. O diretor, depois de
Watchmen faria vários filmes que são amados por um, e odiados por outro. Porém ele segue no radar de
Hollywood como um dos diretores mais ousados e a frente de seu tempo,
principalmente quando o assunto é adaptações de histórias em quadrinhos; essas
uma de suas grandes paixões.
Watchmen é um filme que vale muito a pena ser visto, e todos
tem o direito de tirar a sua própria conclusão, até porque ninguém é dono da
verdade. Zack Snyder é um diretor que por si só, já atrai os holofotes para
suas produções. E embora ele peque muita vezes na escolha de atores e em sua
extrema fidelidade as suas referências originais, ele segue sendo um dos diretores
mais técnicos de Hollywood e uma dos principais nomes quando o assunto é filmes
de super-heróis. Os fãs de quadrinhos são talvez, os fãs mais difíceis de
agradar nos cinemas, e Snyder não é o único que tem sua vida marcada por
críticas a respeito desse gênero, mas ele aguenta todos elas, e defende suas
obras com garras e dentes, como um grande diretor sempre deve fazer.
“Zack Snyder não nasceu para ser unanimidade, nasceu para
ser ele mesmo”
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