MORCEGOS
OU PALHAÇOS?
Dois sucessos absolutos de crítica e bilheteria, que figuram
certamente entre as melhores adaptações de dois dos maiores personagens das
histórias em quadrinhos. Um mergulho profundo na perturbada mente de Bruce
Wayne, e um convite ao insano cotidiano de Artur Fleck. O Cavaleiro das Trevas contra o Palhaço do Crime, Vingança vs. Loucura.
Afinal, qual o melhor filme: The Batman ou Coringa?
O BATMAN
Dirigido por Matt Reeves(da
franquia Planeta dos Macacos) e com o brilhante protagonismo de Robert Pattinson, The Batman surgiu em
meio a incógnitas, mas se tornou um belo exemplar de abordagem ao Homem
Morcego. Com um filme praticamente inteiro apresentando o lado detetive de Bruce
Wayne, a produção de quase três horas de duração mostra que é possível sim em
um gênero saturado, apreciar a qualidade e a inovação; e assim, unir público e
crítica.
Diferente de fórmulas manjadas e roteiros cheios de piadas,
Matt Reeves escreveu e dirigiu uma trama que convida o telespectador a
mergulhar em uma Gotham fria e corrupta, com uma fotografia pesada e um núcleo
repleto de coadjuvantes cheios de camadas, que poderiam render mais uma outra
série de filmes próprios.
O arco de evolução de Bruce Wayne é notável em The Batman,
partindo de um ser vingativo e distante de todos, mesmo que sua vontade possa
ser o contrário, e seu desejo seja ser um zelador para a sua cidade; como diria
Rachel Dawes em Batman Begins; “são suas
atitudes que definem você”; e essa aura distante e amedrontadora era
justamente o que afastava quem mais precisava da ajuda do Morcegão.
É somente quando o vilão Charada o leva ao limite, que ele
percebe o quão fundo ele estava em sua caverna particular. É preciso ver a
destruição ao seu redor para ele perceber que vingança não é justiça. Na trilogia
do Batman de Christopher Nolan, o Batman aprende isso com a “mentoria” de Rachel; aqui, sem um
contato próximo com alguém, e guardando distância até mesmo de seu fiel mordomo
Alfred, Bruce tem que aprender na marra o que é preciso para se tornar um Símbolo
de Justiça.
O COMEDIANTE.jpeg)
Já em 2019, temos um clássico(e último filme que muitos assistiram no cinema antes da pandemia
assolar o mundo), dirigido pelo diretor Todd Phillips(da franquia Se beber, não case). Joker, no original, aborda um
estudo do personagem, e encaixa de forma brilhante seu argumento em uma
história de origem para o Coringa, o maior antagonista do Universo do Batman.
Com o roteiro de Scott Silver, e auxiliado pelo próprio diretor
Todd Phillips, entendemos(ou ao menos,
tentamos) compreender o que há de sã na mente de um homem aparentemente
normal, que se transforma em um dos maiores procurados de Gotham City.
As referências a clássicos de Martin Scorcese estão em todo
lugar. Aqui temos Touro Indomável, Rei da Comédia, e principalmente Taxi Driver.
Com uma censura de 18 anos, o projeto tem liberdade para oscilar grandes cenas
de violência com uma narrativa mais lenta e que brinca com o telespectador, ao
nos dar informações, e retirá-las logo após; a esperar uma ação, e receber
outra. É justamente essa condução que Todd Phillips traz dos clássicos estadunidenses
dos anos 70, e insere com uma roupagem que respeita os clássicos, mas expande
para todo um universo de possibilidades, que são as histórias em quadrinhos.
Assim como Reeves em The Batman, aqui Phillips abandona
fórmulas mágicas e entrega um projeto cru e realístico; sem peixes risonhos e
cartas de baralho gigantes.
A liberdade que Phillips recebe do estúdio o permite avançar
ao ponto de incomodar certos críticos, com a pulguinha do medo de seu projeto
influenciar jovens com o desejo por Anarquia. Talvez pessoas presas ao passado,
com o popular medo estadunidense de enxergar desordem e Comunismo em qualquer
esquina, ao invés de focar seus esforços em medidas que visam unir as pessoas,
ao invés de rotulá-las.
E justamente neste “toque
na ferida” que Coringa já ganha um ponto a frente de The Batman, com um
diretor que soube abraçar a sua liberdade criativa, e promoveu algo que de fato,
impactou o gênero, e surrou tudo que havia sendo feito até aquele momento.
The Batman, mesmo sendo uma produção ousada para o atual
parâmetro, possui sombras e amarras que ainda coloca o longa abaixo de Coringa.
O longa de Matt Reeves parece seguir em uma marcha anterior
à Coringa, e isso incomoda em certos momentos que necessitam uma maior coragem
de pisar no acelerador e ver o quanto esse motor pode render na reta. Outro
fator que pesa contra o The Batman é também um certo excesso de personagens na
trama, que mesmo sendo interpretados de forma brilhante, exigem uma certa
pressa da produção, e olha que estamos falando de um longa de três horas de
duração.
Mesmo com atores brilhantes, a narrativa seria melhor
desenvolvida com um roteiro centrado em seus protagonistas, o que sem dúvidas,
tornaria o longa mais intenso e dinâmico. Não é produção arrastada, mas que
perde tempo em tramas secundarias, que podem ser interessantes lá na frente,
mas não julgamos um crime pelas provas que serão encontradas amanhã, e sim no
presente.
Coringa se escora apenas no ótimo protagonismo de Joaquim Phoenix, e não à toa, o personagem
finalmente lhe trouxe o Oscar de Melhor
Ator. É um longa que vem em uma crescente que atiça, provoca e entrega um
final, que é sem dúvidas, o ponto alto do projeto. Um clímax que vai ao
encontro dos quadrinhos, formando um casamento entre o cult e o pop.
Gosto a parte, é complicado julgar uma obra como melhor do
que outra, já que cada pessoa recebe a arte de uma forma muito pessoal. Tem
pessoas que se emocionam por filmes que outras julgam não ser lá essas coisas.
E outros que apedrejam algo que pode ter marcado a vida de tantos outros. Mas
essa é a arte, ela não vive sem o telespectador; e nós temos uma vida bem mais
miserável sem ela.
A opinião do GR é que Coringa supera The Batman. Mas e para você, qual
o melhor longa recente da DC Comics, a Vingança do Cavaleiro das Trevas ou a
insana realidade do Palhaço do Crime??!!
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